segunda-feira, dezembro 20, 2004

 

Porque é que Deus criou Satanás?

De acordo com a mitologia judaico-cristã, Deus criou o homem «à sua imagem e semelhança». Eu sempre considerei esta afirmação deliciosa: o que é que nós, meros mortais, temos de semelhante com um ser etéreo, eterno, omnisciente, omnipresente, omnipotente e perfeito?
Em particular, achava curiosa essa afirmação, visto que os anjos haviam sido criados antes dos homens. Em que é que os homens seriam mais parecidos com Deus do que os anjos? Os anjos são etéreos, assexuados, e podem aceder ao mundo espiritual, tendo uma série de poderes negados aos humanos. Que caracterítica faria dos homens seres mais parecidos com Deus do que os anjos?
A única resposta que até agora um crente me deu foi a seguinte: o livre arbítrio.

Há, no entanto, um pequeno problema com essa resposta: o Diabo. Consta da mesma mitologia que o Diabo era na verdade o anjo mais fantástico, o qual, no seu orgulho, decidiu revoltar-se. A legião de anjos que decidiram segui-lo tornou-se uma legião de demónios, e o Diabo passou a reinar no Inferno.
Enfim... parece claro que a falta de livre-arbítrio dos anjos é totalmente incoerente com esta história.

Mas esta personagem - Satanás - levanta outras questões teológicas. Para mim, a mais significativa é esta: sabendo Deus (omnisciente) que ao criar aquele anjo, ele causaria mal, dor e sofrimento aos homens, porque o criou? Não poderia o homem ter livre arbítrio longe das tentações alegadamente enviesadas de Satã?

As respostas que podem ser dadas a esta questão serão as habituais: abordam a nossa incapacidade de entender certas questões que desafiam a nossa «lógica limitada» (o que reforça a ideia de que temos pouco em comum com o ser que nos criou «à sua imagem e semelhança»), abordam este ou aquele paradoxo teológico, mostram que o edifício da Fé não é abalado por estas questões menores.
A mitologia judaico-cristã e a lógica nunca se deram bem. Não é por acaso que toda essa mitologia encara como fonte de todo o mal que se sucedeu à humanidade o «fruto do conhecimento».




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