quarta-feira, março 09, 2005

 

Conventos e liberdade

Todas as religiões têm casas de reclusão, a pretexto da piedade e da oração, onde encarceram os débeis de vontade, os fanáticos do divino ou os mais depressivos dos devotos. Às vezes são apenas vítimas de famílias que lhes querem confiscar a herança, de coacção ou de chantagem. Têm, em regra, uma hierarquia rígida, uma disciplina despótica e um tratamento desumano. Bem sabemos que é para maior glória de Deus e para gozo da Santa Madre Igreja.

Os conventos estão atribuídos a Ordens, consoante as patologias. Uns dedicam-se à contemplação, outros ao silêncio, vários à auto-flagelação, quase sempre em acumulação de diversas taras que, no caso da ICAR, são autorizadas pelo Papa e conduzem em regra o/a fundador/a à canonização.

Admitamos que as vítimas se aprisionam de livre vontade, que o desejo do Paraíso as inclina para o masoquismo, que a ociosidade as anula, que a inteligência, a vontade e os sentimentos se consomem na estéril clausura e na violência dos votos. Aceitemos que há seres racionais que acreditam que, algures, um Deus aprecia a alienação, o sofrimento e a violência. Imaginemos um Deus que se baba de gozo com os ambientes concentracionários despoticamente defendidos por madres ou frades ungidos do direito à tirania.

A título de exemplo lembro a Ordem das Carmelitas onde, só a título muito excepcional, é permitido falar. E essa generosa autorização tem fortes grades a proteger qualquer encontro. É em ambientes prisionais assim, despojados de nome, de pertences e de memória, que exércitos de inúteis fardados de forma bizarra se encontram ao serviço do Papa. Na Irlanda, há poucos anos, o Governo foi obrigado a averiguar o que se passava no campo de concentração «As irmãs de Maria Madalena», tendo fechado a espelunca e libertado as vítimas, condenadas a prisão perpétua pela própria família, por terem sido mães solteiras ou, apenas, demasiado bonitas e serem perigosas na sedução dos homens.

Será possível que os Governos democráticos, a quem cabe a defesa da Constituição, o dever de respeitar e fazer respeitar os direitos e liberdades dos cidadãos, se conformem com a renúncia de alguns à cidadania e, nem ao menos, averigúem se é de livre vontade que bandos de frades e freiras façam de lúgubres e sinistros conventos o mausoléu da vida?




<< Home

Google
 
Web www.ateismo.net


As opiniões expressas no Diário Ateísta são estritamente individuais e da exclusiva responsabilidade dos seus autores, e não representam necessariamente a generalidade dos ateus. Os artigos publicados estão sujeitos aos estatutos editoriais.
As hiperligações para sítios externos não constituem uma recomendação implícita. O ateismo.net não é responsável nem subscreve necessariamente, no todo ou em parte, a informação e opinião expressa nesses sítios web.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?