segunda-feira, outubro 03, 2005

 

Momento Zen da segunda-feira

«Como podem desconhecer o Sol?» é o título da homilia desta segunda-feira com que o inefável predicante J. César das Neves (JCN) brinda os leitores, à guisa de penitência.

Ontem, domingo, conhecido no jargão beato por Dia do Senhor, JCN, bem confessado, melhor rezado, lindamente comungado e magnificamente benzido, atirou-se à prosa num ataque de proselitismo.

Começou com uma ameaça aos leitores do Diário de Notícias: «daqui a um mês, Lisboa será inundada pelo Congresso Internacional da Nova Evangelização», altura de pôr de prevenção os bombeiros da laicidade, não sejam gigantes as ondas de fé e irreparáveis os danos do maremoto.

Queixa-se depois o catecúmeno: «Hoje a Igreja é vasta, activa, bem visível e, apesar disso, ignorada». Infelizmente é verdade. Tornou-se vasta pela cumplicidade oficial, activa pelo proselitismo dos beatos, bem visível por incúria dos cidadãos e, apesar disso, ignorada, como se não constituísse perigo.

JCN é um sólido colosso da fé que faz «todas as coisas, das menores às decisivas, com os olhos no Céu». E diz que «Ela [a Igreja] é sempre aberta, acessível em qualquer lugar, missionária por vocação».

Uma vez mais JCN tem razão, pelos piores motivos. A ICAR multiplica capelas, igrejas, catedrais, nichos, cruzes, nomes de santos e da Virgem, nos seus infinitos heterónimos, a designar pontes, viadutos, ruas, becos, avenidas, largos, praças, barcos, aviões, hospitais, numa imparável onda de santidade que atinge aldeias, vilas e cidades, numa manifestação de força clerical e de provocação ao carácter laico do Estado.

O devoto termina a homilia a citar a bíblia, o que lhe atenua a culpa das tolices que debita, atónito por haver quem despreze a Igreja porque, tal como o Sol, também a ICAR devia ser conhecida.

E devia. Há quem despreze o perigo.




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