quinta-feira, abril 13, 2006

 

O Sr. Teodoro da Madeira

Na Madeira, vai realizar-se o enterro do Senhor Jesus, funeral sem morto, uma paródia que se repete todos os anos, com o ar sorumbático dos gatos-pingados do costume e as orações que se repetem.

Apesar do funeral, o pessoal calejado nestas encenações já sabe que no Domingo pode mudar o ar sorumbático e pôr um sorriso domingueiro a que as vitualhas acrescentarão sinergia.

O morto é a fingir, tal como a ressurreição, um espectáculo encenado para manter a fé, entreter os crentes, pôr as sotainas em movimento e o bispo a passear o báculo, abanar a mitra, exibir o anel de brilhantes à fúria osculatória dos beatos e viajar debaixo do pálio com os vassalos a içar as varas.

Estas festas são um hábito sofrido que os proxenetas do morto a fingir têm o direito de viver em angústia mística até ao delírio alucinado da ressurreição do artista ausente.

Grave é a vocação totalitária do bispo, dos padres e outros parasitas de Deus que acham a sua dor, pela morte de Cristo, de sofrimento colectivo obrigatório, incompatível com festas profanas.

Vêem na música a heresia capaz de pôr de mau humor o cadáver. Consideram a alegria juvenil um pecado. A violência da fé não consente a liberdade da festa. Ainda que fosse verdadeira a morte, mesmo que a alegria dos jovens denotasse mau gosto, era um direito de cidadania.

As ameaças, intimidações e provocações à realização do «Madeira Paradise Dance Tour 2006» são uma manifestação de intolerância e de vocação totalitária.

Os apaniguados do bispo, avençados da hóstia e da procissão, têm a marca genética dos velhos padres rurais com um zero na cabeça que Guerra Junqueiro apelidava «a marca do fabricante».

Espera-se que Deus e os jovens não se envolvam em escaramuças. Dos padres sabemos que virá a gasolina que apaga os fogos - uma velha vocação pirómana de sabor cristão.




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