sábado, junho 24, 2006

 

Igreja Católica e Holocausto - Itália II

No início dos anos 20, o Partido Popular estava prestes a formar uma coligação com o partido reformador que poderia ter estabilizado a política italiana e frustrado a tomada de poder por Mussolini. Mas nessa altura Bento XV morre e é eleito Pio XI, o Cardeal Ratti que tinha seguido atentamente o percurso do Partido Fascista.

A 2 de Outubro de 1922, o Papa Pio XI fez circular uma carta ordenando ao clero para que deixasse claro que não se identificava com o Partido Popular, o que na prática cortou qualquer oposição a Mussolini. No seguimento da ascensão de Mussolini ao poder, nesse mesmo ano, o secretário de estado do Vaticano, o cardeal Gasparri, encontrou-se em segredo com Il Duce no início de 1923, encontros em que discutiram o partido católico, que Mussolini via como um obstáculo ao domínio fascista.

Em 1924, no seguimento do assassinato do líder do Partido Socialista por fascistas, o Partido Popular juntou-se ao partido socialista na exigência de que o rei demitisse Mussolini como primeiro-ministro, e afirmou o desejo de formar um governo de coligação. Pretensão cortada cerce por Pio XI que não demorou em avisar os católicos que tal era estritamente proíbido pela lei «moral», já que é um pecado a colaboração com o mal e o socialismo era um mal maior. O Vaticano ordenou a todos os padres para abandonarem o Partido Popular. Esta posição da Igreja levou à desintegração do partido, de implantação principalmente nas áreas rurais onde o partido assentava nas estruturas eclesiásticas.

Na sua primeira encíclica, um manifesto político datado de Dezembro de 1923, «Ubi arcano Dei consilio» (Onde está o plano oculto de Deus), Pio XI, que considera dever o catolicismo permear todas as actividades humanas, apresenta a Acção Católica quasi como panaceia universal para os males do mundo, proeminentes entre eles o «modernismo moral, legal e social».

Modernismo que não reconhece nem «a posição na sociedade que Ele em pessoa atribuiu à sua Igreja», a única instituição que «pode conceber leis internacionais em harmonia com o mundo» tal «como na Idade Média», nem que «A própria origem e natureza divina da soberania da Igreja exige» que a Igreja jamais «seja sujeita a alguma autoridade ou lei, qualquer que esta seja, mesmo que essa lei seja uma que proclama certas garantias para a liberdade do pontífice romano».

Modernismo que Mussolini se encarrega de eliminar de Itália quando em 1926 declara ilegal e dissolve o então irrelevante partido católico e cumpre a sua ambição: impõe em Itália, com o apoio explícito do Vaticano, a primeira ditadura fascista. Também em Outubro de 1926 Pio XI e Mussolini dão início às negociações que culminam com a assinatura do tratado de Latrão em 11 de Fevereiro de 1929, que cumpre integralmente as exigências, políticas e não só, de Pio XI, expressas no «plano oculto de Deus». Assim, não só é criado o estado soberano do Vaticano como o catolicismo é declarado a religião oficial do país, o ensino religioso passa a ser obrigatório nas escolas italianas e é proibida a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina. Para além disso, é oferecido uma indemnização monetária vultuosa a Pio XI, supostamente pela perda da soberania nos Estados Pontifícios.

Em 31 de Outubro de 1926, o legado pontifical Cardeal Merry del Val, declara publicamente:

«Os meus agradecimentos vão para ele (Mussolini) que segura nas mãos o governo de Itália, que, com uma visão clara da realidade, desejou e deseja que a religião seja respeitada, honrada e praticada. Visivelmente protegido por Deus ele melhorou visivelmente a sorte da nação, aumentando o seu prestígio no mundo».




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