sexta-feira, agosto 04, 2006

 

De anjos e outras tretas

Ainda ontem escrevi que os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», que reclamam nada ter a ver com religião e rebate completamente o «ateísta» (e para alguns satânico) evolucionismo. Na realidade tenho de fazer uma retractação: via o blog Pharyngula descobri que afinal existe um modelo completamente IDiota, da autoria de Robert Newman.

O autor deste modelo genuina e absolutamente IDiota colaborou com William Dembski, Michael Behe, Philip Johnson e congéneres no livro «Mere Creation: Science, Faith & Intelligent Design». É ainda co-autor de «What's Darwin Got to Do with It?: A Friendly Conversation about Evolution» um livro de banda desenhada que pretende introduzir os conceitos (?) da IDiotia aos mais jovens. Ou seja, é um reputado ideólogo do desenho inteligente.

Não obstante pertencer ao multi-oxímero Instituto de Investigação Bíblica Interdisciplinar, Robert Newman pretende ser, como todos os IDiotas, um proponente «científico» e não teológico da IDiotia. Aliás, escreveu um artigo hilariante, sobre má ciência, que recomendo e do qual transcrevo o significativo resumo:

«Devido à tensão que se desenvolveu entre as comunidades científica e evangélica no último século e meio, os crentes na Bíblia têm muitas vezes (com ou sem razão) suspeitas acerca das descobertas e teorização da ciência moderna. Isto levou a uma atracção bastante generalizada por teorias que são vistas como tretas por cientistas e outras pessoas cultas. Neste artigo são discutidos alguns exemplos e propostas estratégias que protejam os cristãos de parecerem desnecessariamente cretinos aos olhos do mundo».

Apesar de ser louvável o seu reconhecimento no anterior artigo do ridículo em que incorrem os cristãos que acreditam literalmente na Bíblia, infelizmente Newman não segue o seu próprio conselho e elabora o modelo mais cretino de explicação da origem e evolução das espécies de que já ouvi falar.

Num artigo francamente hilariante e imperdível o autor elabora sobre IDiotia e um facto «científico» que tem sido descurado pelos ateus cientistas na explicação do mundo: a acção dos anjos e outras tretas, que por outro lado, tem como objectivo explicar o «mau desenho» de algumas espécies, nomeadamente parasitas, vírus e outros agentes do mal, que segundo o autor foram «desenhados» por Satanás e seus acólitos.

O artigo, intitulado «Using ID to Detect Malevolent Spiritual Agents», discute o tema anjos (o que inclui os «caídos») como explicado pelo resumo:

«Desde 1900, a maioria das discussões sobre a acção de Deus na natureza ignora a actividade angélica, talvez em reacção à História da Guerra da Ciência com a Teologia na Cristandade de Andrew Dickson White [finais do século XIX e leitura recomendada]. Neste artigo olhamos com uma perspectiva diferente para os dados bíblicos sobre anjos e depois consideramos que dados científicos podem ser relevantes [?] à luz do recente interesse no desenho inteligente».

O artigo desenvolve-se com base nas seguintes premissas:

(1) Os antigos que acreditavam serem os anjos os responsáveis por fenómenos como a meteorologia, doenças e insanidade mental estavam errados [uau!];
(2) Mas igualmente errados estão os modernos que acreditam que os anjos são ou seres mitológicos ou incapazes de produzir efeitos no mundo natural;
(3) Na realidade, os anjos existem e são capazes de, e fazem-no de facto, interagir com a natureza.

Mas como então «podemos encontrar evidência científica para a actividade angélica? A nossa proposta é que a actividade angélica não se assemelha às leis naturais, que operam continuamente. Na realidade, é mais como a actividade humana, que é esporádica. Mas temos a complicação adicional de não podermos ver os actores».

Dada esta complicação adicional de agentes invísiveis o autor propõe-se usar na pesquisa da actividade angélica a metodologia proposta por William Dembski para a «detecção» do desenho inteligente (igualmente de autores invísiveis e indetectáveis).

Mas «As acções dos anjos bons podem ser facilmente confundidas com aquelas de Deus, excepto que a qualidade pode não chegar aos padrões divinos [isto é, trabalho rasca é da autoria dos anjos, não de Deus]. E o desenho que nos pareça ser malevolente pode ser o trabalho de seres pecadores acima do nosso nível - anjos caídos, demónios ou Satanás.»

Para explicar o «desenho malevolente» encontrado em muitas espécies o «cientista» elabora sobre a predação, afirmando «como eu leio o registro geológico a predação estende-se até ao período câmbrico» o que permite concluir que «a queda de Satanás é muito anterior à de Adão e a criação já não era tão boa na altura em que Adão é criado». Simplesmente delicioso!

Mas há inúmeras pérolas no indispensável artigo, alguns dados quantitativos sobre quantos porcos podem ser possuídos simultaneamente por um demónio (com base nos dados científicos da Bíblia, claro), asserções sobre os vírus HIV e Ebola (desenhados pelo Demo, como seria de esperar) e algumas dúvidas sobre a malevolência no desenho de alguns insectos.

Enfim, um mimo da superstição e obscurantismo cristãos!




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