quinta-feira, setembro 14, 2006

 

Karol Wojtyla: «a evolução aplica-se a todos os animais menos um» (2)

(continuação do artigo anterior)

A ideia de que o homo sapiens é um animal excepcional, esmiuçada, resume-se a dois factos: fala muito e fabrica utensílios. Mas, mesmo aí, as diferenças são de grau: podemos ensinar os nossos primos chimpanzés a usar palavras (sem gramática, todavia) e a usar utensílios (e talvez mesmo fabricá-los). Mais importante: sabe-se que algumas lesões cerebrais prejudicam o uso da linguagem e alteram a personalidade (ler Damásio), o que certifica que a mente tem uma base biológica. Claro que isto deixa o homem sem a «dignidade especial» que obcecava Wojtyla. Mas o Papa polaco pertencia ao género de pessoas que, mesmo que tivessemos dez tsunamis como o de 2004 por ano, não se convenceria de que a natureza não é boa nem má, limita-se a ser. (Quanto à ideia de que a evolução se aplica aos chimpanzés mas não aos homens, é tão absurda que só merece ser ridicularizada.)

Mas é claro que a principal diferença entre ciência e religião é metodológica. A ideia de «criação» nunca produziu uma equação ou um instrumento, uma previsão que não fosse banal, nem alguma vez nos disse nada que não pudessemos saber por outros métodos. Pior ainda, é um método estático, que não apresenta forma de se corrigir a si próprio, e que pretende que o conhecimento sobre o universo se adquire consultando textos neolíticos e discutindo-os a partir de premissas erradas e inquestionáveis. Com a ciência, pelo contrário, já curámos doenças e prolongámos a esperança de vida, inventámos o computador e o telemóvel. E podemos actualizar a ciência com novas observações e novos desenvolvimentos teóricos, corrigindo alegremente o conhecimento anterior. A ciência está do lado da liberdade, da criatividade e do aperfeiçoamento do conhecimento. A religião, embora insista em pronunciar-se sobre biologia e cosmologia, nunca produziu uma conta certa.

O apelo da religião deve-se, evidentemente, à exploração de fraquezas humanas como a vaidade, o medo da morte, o medo da solidão, o medo da realidade, e a ignorância. Mas a ciência tem para oferecer o prazer da descoberta e da compreensão da realidade, armando-nos com o espírito crítico e a independência intelectual. Quanto ao propósito do universo ou da vida humana, isso é com cada um.





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