terça-feira, novembro 14, 2006

 

Mudando o Chile

A eleição da ateísta Michelle Bachelet está a varrer as teias de aranha católicas do Chile, um dos países em que a manipulação social da Igreja de Roma se faz mais sentir mas em que lentamente a sociedade chilena se liberta dos condicionamentos sociais resultantes de uma ditadura sob os auspícios da Igreja Católica - Augusto Pinochet, o ditador chileno, crente devoto foi considerado um católico exemplar por João Paulo II.

O mesmo Pinochet que considera ir «Deus» perdoar-lhe todos os atropelos dos direitos humanos, incluindo o direito à vida, que cometeu durante os 17 anos da sua abençoada ditadura, já que «Tudo o que fiz, tudo o que levei a cabo, todos os problemas que tive, dedico-os a Deus».

Mas a sociedade totalitária, completamente dominada pelos dogmas e hipocrisias católicas, está em vias de extinção no Chile. Assim, o desaparecimento da censura que garantia o pensamento único católico permitiu que o Chile já não seja considerado uma nação de 16 milhões de fundamentalistas católicos.

Uma sondagem levada a cabo pela MORI Chile indica que entre 1990 e 2006, num país em que o divórcio é apenas permitido há dois anos e a homossexualidade apenas deixou de ser crime há 8 anos, 60 e 49% da população aceitam, respectivamente, o divórcio e a homossexualidade.

Para além disso, e não obstante as ululações em contrário da Igreja de Roma, cerca de 90% da população considera que as mulheres devem ser livres de controlar a sua fertilidade, escolhendo o método contraceptivo que entenderem.

A misoginia da Igreja Católica que se traduz não só na oposição a qualquer forma de contracepção mas igualmente na consideração que a vida de uma mulher tem menos valor que qualquer óvulo fertilizado - e a lei actual do Chile segue estritamente os ditames do Vaticano em relação ao aborto: é proibido mesmo para salvar a vida da mulher - está na base das últimas guerras abertas da delegação local dos ditadores de Roma com o governo de Bachelet.

Assim, a Igreja Católica chilena ulula contra a última campanha de Michelle Bachelet, que visa prevenir a infecção com o HIV promovendo o uso do preservativo - no Chile mais de metade da população nunca usou um preservativo e apenas 35,4% dos jovens o utilizam na primeira experiência sexual.

De igual forma, a Igreja Católica carpiu a decisão recente de um Tribunal chileno que confirmou uma directiva de Setembro que permitia a venda livre da pílula do dia seguinte.

Por outro lado, não obstante a homossexualidade já não ser crime, não há qualquer disposição legal que reconheça ou proteja os direitos de homossexuais, situação que Bachelet pretende mudar.

De facto, fazem parte do programa que a elegeu, «pontos totalmente inaceitáveis para a consciência cristã» de acordo com «os reiterados ensinamentos dos Papas». Nomeadamente, Bachelet pretende que o Chile assine um anti-católico protocolo de 1979 da ONU que defende os direitos das mulheres - a ICAR não reconhece direitos, a que chama «exigências 'para ela mesma'», à mulher.

Para além disso Bachelet pretende oferecer «estabilidade legal» às uniões de facto «independentemente da sua composição», um duplo pecado mortal já que implicitamente admite vir a reconhecer uniões homossexuais.

Marta Lagos, directora da MORI Chile afirmou recentemente em relação a esta abertura da sociedade chilena à modernidade, lenta para os padrões ocidentais mas impensável há uns escassos 15 anos:

«A mudança de valores é enorme se olharmos para ela da perspectiva que ... sobre estes temas [aborto, divórcio, homossexualidade, contracepção, etc.] nos tornámos numa sociedade que tolera alguns deles e começa a falar sobre os restantes».

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