sexta-feira, janeiro 12, 2007

 

Agnosticismo: possível, mas difícil

«Todos somos agnósticos em relação a alguma coisa. E podemos ser agnósticos em relação a tudo. O que determina o agnosticismo é a confiança que exigimos para aceitar algo como verdadeiro. Como não há certezas, e como podemos exigir o nível de confiança que quisermos, não há nada que possa escapar ao agnosticismo.

Imaginem que temos resultados que indicam que o chocolate faz bem ao coração, com uma confiança de 80%, e que o tabaco faz mal aos pulmões, com uma confiança de 95%. Se decidirmos aceitar como verdadeiro apenas aquilo em que se tenha mais que 99% de confiança, somos agnósticos em relação a ambos. Se pomos a fasquia nos 90% aceitamos apenas os malefícios do tabaco, e se somos pouco exigentes podemos acreditar em ambas as proposições.

Mas é incoerente aceitar que o chocolate faz bem e permanecer agnóstico acerca dos malefícios do tabaco, pois isso só com duas fasquias diferentes. Mesmo sem valores concretos, isto é válido: não é coerente rejeitar uma hipótese mais bem fundamentada quando aceitamos uma com menos fundamento. Esse é o problema dos que são agnósticos em relação a deuses e coisas sobrenaturais.

A teoria da relatividade é talvez a teoria mais bem fundamentada que temos hoje. Não deve haver algo que se saiba com mais confiança que ser impossível levar uma laranja da Terra a Marte em menos de um minuto (contado na Terra). Mas podemos ser agnósticos em relação a um deus omnipotente que possa pegar numa laranja e leva-la para Marte a uma velocidade superior à da luz. Basta exigir ainda mais evidência que aquela que apoia a teoria da relatividade.

O problema é a micose. Temos muita confiança que o clotrimazol ajuda a curar infecções por fungos, mas muito menos confiança na sua eficácia que temos na teoria da relatividade. Um agnóstico coerente não pode aceitar o conselho do médico se rejeita as conclusões de Einstein. Uma escapatória comum é que um ser sobrenatural não está sujeito à teoria de Einstein, mas isto revela um mal entendido. A teoria da relatividade não obriga; descreve. E o que descreve é ser impossível acelerar laranjas para além da velocidade da luz, seja quem for que as empurre. Não há excepções para seres que se intitulem sobrenaturais, nem evidências que indiquem que um ser sobrenatural seja imune à relatividade. Nem resolve a micose. O agnóstico coerente terá que considerar como pelo menos igualmente provável um fungo sobrenatural escapar ao clotrimazol. Isto não permite que se rejeite a relatividade e se aceite os antibióticos com coerência.

Regra simples para avaliar a coerência de um agnóstico: observem-no por uns momentos. Se não se coçar, ou é incoerente ou teve muita sorte.»


--------------------------------[Ludwig Krippahl]




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