sábado, novembro 10, 2007

 

A canonização de Nuno Álvares Pereira


Não cuido de saber se Nuno Álvares traiu ou não os códigos de honra da nobreza ao assumir o lado da barricada onde se destacou; não emito juízos de valor sobre os bens que exigiu para se colocar ao lado do Mestre de Avis; não julgo à luz dos critérios de hoje as decisões de D. Nuno, na Idade Média.

Custa-me ver o herói, que inflamou gerações, acabar como santo. Enquanto a Espanha impava de fé jamais o Vaticano se atreveu a fazer-lhe a ofensa de canonizar o algoz de castelhanos e a humilhação imposta, apesar do empenhamento do salazarismo e do seu braço pio - o episcopado católico -, em elevá-lo aos altares.

Mas, à medida que a fé se liquefaz numa Espanha rica, culta e poderosa, a canonização do guerreiro português é uma gota de água no mar de santidade ibérica onde um milhar de beatos foi dispensado de milagres em troca do martírio. Não se adivinha qualquer protesto do Governo espanhol, pouco dado a milagres, nem do clero, mais inquieto com o fim do ensino obrigatório da disciplina de Religião católica nas escolas públicas.

O direito canónico dispensa de milagres os bem-aventurados que sejam reconhecidos como santos, pelo povo, há mais de duzentos anos. Não se vê para que se exige um milagre, sempre sujeito ao crivo da dúvida e à galhofa dos incrédulos.

Sei que as minhas tias-avós, casadas em Espanha, ameaçavam os filhos com D. Nuno quando recusavam a sopa e os resultados épicos da ameaça ainda hoje são recordados pelos últimos sobreviventes. Como duvidar de tanta santidade?

É certo que não matou mouros nem judeus e eram católicos os que mais cedo chegaram ao Paraíso nas batalhas dos Atoleiros e de Aljubarrota mas adivinha-se o que faria se os andaluzes, que ainda eram moiros, lhe tivessem saído ao caminho, vindos de Granada.




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