segunda-feira, março 27, 2006

 

Momento Zen de segunda-feira, 27 de Março

Ao ler o início da sua homilia de hoje, onde o inefável João César das Neves (JCN) afirma que «o nosso tempo tem um trauma com a religião», pensei por instantes que o talibã do Diário de Notícias teria finalmente a hombridade de reconhecer que a religião é a maior fonte de violência deste início de século. Efectivamente, do 11 de Setembro aos atentados suicidas no Médio Oriente, passando por Casablanca, Madrid, Bali, Londres e muitos outros lugares, o nosso mundo é aterrorizado por organizações que recrutam crentes e os convencem de que o paraíso fica ao seu alcance se se fizerem explodir levando o máximo de «infiéis» consigo. Todavia, o tema da crónica é uma alegada dificuldade contemporânea em aceitar que tudo é religião (e tudo mesmo, até o ateísmo, por paradoxal que pareça a quem não partilhe da mundividência surreal de César das Neves).

Assim, no segundo parágrafo JCN diz-nos que os movimentos espirituais ditos «da Nova Era» são religião, presume-se que da má porque aparecem, diz-nos ele, para colmatar a «decadência espiritual da Europa» (sic!). No terceiro parágrafo, insulta e blasfema a moderna música urbana, ao comparar «o rock e o metal» à religião organizada. No quarto são as canções de música ligeira que são vilipendiadas ao serem comparadas a «orações», embora ninguém cantarole a última canção da Ágata antes de se fazer explodir num restaurante.

O melhor do «amor cristão» de JCN está porém reservado, como sempre, para os ateus. Produz alguns daqueles oxímoros que tanto o embevecem: fala-nos do «dogma inabalável do cientifismo panteísta» (o dogma que consiste em não aceitar dogmas?) e assegura-nos que «o cepticismo militante mostrou ser a fé do avesso» (ter dúvidas é uma forma de fé?). Estes jogos de linguagem evidenciam como até na madraça de Palma de Cima o pós-modernismo e o obscurantismo religioso se deram as mãos.

Quase no fim, JCN conduz-nos a uma falsa alternativa que ele diz constituir o «o núcleo central do fenómeno religioso»: «a natureza e o homem não são deus, não se criam a si mesmos nem controlam o mundo à sua volta. Ou Alguém faz isso, ou então a vida e a realidade não têm finalidade e sentido». Na realidade, o mundo não foi criado para nós (aliás, nem foi criado). Quanto à vida, tem o sentido que lhe quisermos dar, e é aí que começa a nossa liberdade.




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