quarta-feira, junho 28, 2006

 

Futebol e Milagres




Um jogo decisivo entre o Benfica e o Sporting. O árbitro marca falta, sacando de um cartão amarelo.

Os adeptos de um dos clubes estão indignados: nem sequer houve falta.
Os adeptos do outro também: era caso para cartão vermelho.

Quem já não viu situações deste tipo? Quem já não viu multidões inteiras de adeptos terem «visto perfeitamente» algo completamente oposto àquilo que as multidões do clube adversário viram «com toda a clareza»?
Quem já viu sabe que os adeptos não estão a mentir para defender o seu clube: eles realmente acreditam ter visto aquilo que alegam.

Então, uma multidão inteira, em conjunto, viu «perfeitamente» algo que não aconteceu. Essa multidão teve uma alucinação colectiva. As alucinações colectivas acontecem, no mundo inteiro, numa base semanal.

Como é possível? Como é possível que tanta gente, em conjunto, acredite ter visto com clareza algo que é manifestamente falso?
Em primeiro lugar, as pessoas, nesses estados mais emocionais, confundem um pouco aquilo que vêem com aquilo que querem ver. Mas, tendo algum bom senso, se mais ninguém viu aquilo que eles viram, só sendo loucos é que insistirão na confusão.
O que faz as alucinações em massa acontecerem a pessoas razoáveis é o reforço colectivo: cada pessoa vê que as pessoas à volta viram o mesmo, e isso reforça a sua «ligeira sensação» de ter visto algo, transformando-a numa certeza absoluta.


Obviamente não é apenas no futebol que este tipo de alucinações se sucedem. Em todo o mundo e ao longo da histórias elas estiveram sempre presentes. Desde aparições de Isis e Osiris no antigo Egipto, até aparições de Zeus, Neptuno e Afrodite pela Grécia clássica, os tempos actuais presenteiam-nos com milhares de pessoas que já viram ETs, seres magros de olhos muito grandes que pilotam discos voadores (os mesmos que ocasionalmente até raptam seres humanos para fazerem experiências sexuais com eles). Em todo o mundo, existem vários fenómenos de alucinação colectiva que resultam em avistamentos (colectivos) de divindades várias, e outro tipo de seres ou fenómenos inexistentes.

Um dos últimos casos em que isso aconteceu foi na Cova da Iria. Estavam lá os elementos todos: vários milhares de pessoas que estavam lá para ver qualquer coisa; que queriam; que desejavam ardentemente ver qualquer coisa. Depois, umas nuvens ténues passaram pelo Sol, alterando vagamente a sua textura (um fenómeno naturalíssimo que não espantaria ninguém em qualquer outro dia).
Mas as pessoas confundiram então aquilo que estavam a ver com aquilo que queriam ver: algo de especial. É assim que começa a «dança do Sol», toda a gente diz que está a ver algo fascinante, e esta crença é reforçada por todos os outros em redor que também querem ver algo fascinante.
Claro que como nada de extraordinário se passava, cada um dos que «viu» descreve um fenómeno diferente. E claro que nenhum registo fotográfico demonstra um milagre ou uma «dança solar».
Tal como no exemplo do futebol, quem não vê nada sente-se inibido em revelar a sua posição, com medo de provocar a ira dos restantes (lembremo-nos do que aconteceu há 500 anos no Rossio), o que ainda agrava mais a sensação de unanimidade e o reforço colectivo.

Decididamente, a alucinação colectiva não é tão difícil de acontecer quanto parece.
Olhem para o futebol.




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