sexta-feira, julho 07, 2006

 

Outra lenda urbana desmistificada

Without Roots: The West, Relativism, Christianity, Islam

Ratzinger expressou repetidamente as suas preocupações sobre o futuro da Europa, que considera sob a ameaça da laicidade e do Islão e em que a primeira, ou seja, a exclusão de Deus da vida pública, impede para Ratzinger a única resposta que dará conta da ameaça islâmica, a assunção inequívoca e firme da superioridade do cristianismo.

Por outro lado, são recorrentes as afirmações que depositam na laicidade, na «falta de fé» e consequente - para os cristãos que o sustentem - «imoralidade ocidental», o ónus da «guerra de civilizações» que se vive. Isto é, são muitos os crentes que pretendem que o suposto desprezo dos muçulmanos em relação ao estilo de vida ocidental, suposto desprezo que se traduz no apoio ao fundamentalismo islâmico mesmo pelos devotos do Corão mais moderados, é a causa última do terrorismo islâmico. Isto é, os fundamentalistas cristãos advogam que os muçulmanos teriam «mais respeito» pelos ocidentais se estes últimos deixassem a «fé» permear todos os aspectos da respectiva vida pública, nomeadamente do Direito, ou seja, se o Ocidente emulasse, noutro sistema operativo, o cristianismo, a promiscuidade religião-Estado dos países islâmicos.

Estas afirmações, não mais que lendas urbanas disseminadas e acarinhadas pelos fundamentalistas cristãos, tornam difícil ao cidadão comum perceber que existe o Islão das pessoas normais, a esmagadora maioria, e um Islão fundamentalista, esse sim pasto fértil para o terrorismo. Ou seja, estas alegações passam a imagem que todos os muçulmanos são rábidos terroristas em potência e, consequentemente, alimentaram a islamofobia e a xenofobia, crescentes no Ocidente nos últimos anos. De facto, esta é a resposta expectável ao suposto ódio visceral pelo «decadente» Ocidente que os spin doctors cristãos afirmam ser prevalecente em todo o Islão.

Uma sondagem da Gallup, publicada recentemente, desmistifica esta lenda urbana tão acarinhada pelos fundamentalistas cristãos. De facto, esta sondagem, realizada em 10 países muçulmanos - Marrocos, Egipto, Líbano, Jordânia, Turquia, Arábia Saudita, Irão, Paquistão, Bangladesh e Indonesia - indica exactamente o contrário.

A sondagem, que pretende ser alargada até ao final do ano a mais 30 países muçulmanos e abranger mais de mil milhões de inquiridos, indica que de facto não só não há um «ódio cego» ao Ocidente como aquilo que os muçulmanos mais admiram no Ocidente, para além da tecnologia, é exactamente aquilo que os fundamentalistas cristãos pretendem ser a «raíz de todos os males», a liberdade de expressão, de opinião e de religião.

Inquiridos sobre se gostariam de ver incluída na constituição dos respectivos países a garantia da liberdade de expressão, a esmagadora maioria dos sondados em cada país respondeu que sim (p.e, 94% no Egipto, 97% no Bangladesh e 99% no Líbano). Em quase todos os países a maioria é igualmente de opinião que mulheres e homens deveriam ter os mesmos direitos.

Ou seja, os sentimentos anti-ocidentais prevalecentes nos países estudados, dirigidos especialmente aos Estados Unidos, não têm rigorosamente nada a ver com o estilo de vida ocidental, muito menos com a laicidade, liberdade de opinião e expressão, como pretendem os fundamentalistas cristãos que aproveitam o terrorismo islâmico como forma de coacção psicológica para angariar clientela.

Não é como nos comportamos individualmente o alimento das supostas «guerras de civilizações», mas sim como agimos como Estado, isto é como agem os Estados ocidentais em alguns países islâmicos (e não só, como Guantanamo confirma)! Assim, a sondagem reforça o que sempre temos afirmado no Diário Ateísta: a única forma de ultrapassar a actual crise é a defesa intransigente da laicidade e dos direitos humanos!

Combater o fogo com o fogo como pretendem os fanáticos cristãos, ou seja, combater o fundamentalismo islâmico com fundamentalismo cristão, é completamente contraproducente! E destruiria qualquer esperança de paz neste conturbado planeta...




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