domingo, dezembro 10, 2006

 

8 de Dezembro - V

Segundo Küng (um dos teólogos silenciados pelo actual Papa), o Vaticano I definiu a Igreja como uma monarquia papal absoluta e a infalibilidade papal como uma infalibilidade a priori, introduzindo elementos incompatíveis com a Bíblia e a tradição da Igreja. De facto, a principal decisão do Concílio, para além de uma Constituição dogmática intitulada Dei Filius, que reafirmava a ortodoxia da fé católica, foi a Constituição Dogmática Pastor Aeternus, que instituia o primado e infalibilidade do Papa quando se pronuncia ex-cathedra, em assuntos de fé e de moral.

O Concílio Vaticano I não o foi de facto já que Pio IX usou de todos os meios para obrigar os participantes a aceitar a sua controversa doutrina da «infalibilidade». As reuniões foram marcadas por violentas controvérsias até que os conciliares se dividiram em dois grupos: os antiinfalibilistas (que rejeitavam o dogma) e os infalibilistas (que apoiavam o dogma), estes últimos liderados pela recém-restaurada ordem dos Jesuítas.

Enquanto isso os media controlados pelo Papa e pelos jesuítas, forjavam uma imagem de unidade sobre o tema, asseverando que em breve se assistiria a uma aclamação por unanimidade do dogma.

Como tal se afigurava impossível, a corrente infalibilista propôs que o grupo contrário ao dogma fosse excomungado como herege e excluído do concílio. Finalmente após muitas contradições, ameaças, intrigas e pressões foi definido o dogma nos seguintes termos:

«...definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis. Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, - seja excomungado» [Concílio Vaticano I, «Primeira Constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo» - sessão IV, cap. IV (18-7-1870)]

Uma das primeiras vítmas do concílio foi um dos teólogos liberais da época, o historiador Johann von Dollinger, que protestou veementemente o que considerou a «exaltação de um homem que determinou o baptismo compulsório de judeus e depois os torturava para se convencer que as conversões eram sinceras».

Dollinger, que considerava ser a Inquisição a mola impulsionadora do domínio mundano da Igreja e do seu poder sem limites sobre as vidas e propriedades dos homens, associava o anti-semitismo da Igreja com o poder temporal coercivo do papado e com a pretensão da Igreja de ser apenas ela a detentora da «verdade absoluta».

A sua denúncia do Sílabo dos Erros - que reforça a enciclica Quanta Cura na condenação de tudo o que ameaçasse o poder absoluto papal, a começar pela impossibilidade de a Igreja impor à força a sua doutrina (erro 24º), até à liberdade de expressão, que corrompe as almas, passando pela tolerância religiosa, a liberdade de consciência e de imprensa, até à possibilidade de um governo legislar sem os auspícios de Roma - como um instrumento de obscurantismo, incompatível com o conhecimento científico da época e uma evidência clara do despotismo papal assim como a sua demonstração das provas históricas contra a infalibilidade papal valeram-lhe a excomunhão exactamente 4 meses após o fim do concílio, em 18 de Abril de 1871.

(continua)




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