quarta-feira, dezembro 20, 2006

 

Carl Sagan




«Um Dragão na minha garagem

- Um dragão que cospe fogo vive na minha garagem.

Suponhamos que eu fazia, com toda a seriedade, esta afirmação. Com certeza o leitor iria querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!

- Mostre-me - diz o leitor.

Eu levo-o até à minha garagem. O leitor olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nenhum dragão.

- Onde está o dragão? - pergunta

- Oh, está ali - respondo, acenando vagamente - Esqueci-me de lhe dizer que é um dragão invisível.

O leitor propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão.

- Boa ideia - digo eu - mas este dragão flutua no ar.

Então, o leitor sugere o uso de um sensor infravermelho, para detectar o fogo invisível.

- Boa ideia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.

O leitor sugere borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.

- Boa ideia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.

E assim por diante. Eu vou-me oponho a qualquer teste físico que o leitor propõe justificando sempre porque é que não vai funcionar.

Qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que eu peço ao leitor é tão somente que, em face à ausência de evidências, acredite na minha palavra. »


----------------Carl Sagan em «Um mundo Infestado de Demónios»


Foi a série Cosmos que comecei a despertar para o ateísmo, enquanto alimentava o meu deslumbramento pela ciência.

Desenvolvi raciocínios, argumentos e reflexões com outros livros de Carl Sagan. Adorei todos os que li.

Hoje é o décimo aniversário da sua morte.
Que a sua obra continue bem viva.




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