quarta-feira, novembro 15, 2006

 

Os bispos uivam

Houve quem esperasse da ICAR uma postura urbana em relação ao referendo sobre a IVG, para o que contribuiu a serenidade, fingida ou sincera, do patriarca Policarpo a referir-se ao aborto como problema essencialmente político, mais do que religioso.

Era preciso não conhecer o ódio que o cio recalcado desenvolve, ignorar a intolerância de que o clero é capaz e a subserviência à única teocracia europeia - o Vaticano -, para ver nos bispos um exemplo de tolerância e espírito democrático.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), espécie de confederação patronal católica, reuniu segunda-feira, em Fátima, local especialmente dedicado ao embuste e ilusionismo místico. Num acto de subversão, traindo o País a soldo de um Estado estrangeiro e totalitário, contestaram a legitimidade da Assembleia da República para legislar no que respeita à «liberalização ou descriminalização do aborto».

O Sr. Jorge Ortiga, bispo de Braga e presidente da CEP, nega à Assembleia da República o direito legislativo sobre o que ele considera «crime». Presume-se que fala em nome de Deus como se este tivesse direito de voto e de veto nos países democráticos.

Como pode um Papa, ditador vitalício, intrometer-se na vida interna das democracias e soltar o exército de bispos, padres e diáconos contra o sufrágio livremente expresso?

O Estado português não controla a qualidade das hóstias, não analisa a água benta, nem legisla sobre o valor das orações e indulgências para a salvação das almas. No entanto, os celibatários reunidos na CEP negam à mulher quaisquer direitos e querem substituir o direito penal pelo direito canónico.

Compreende-se o gozo que dá às reverendíssimas criaturas ver as mulheres condenadas à prisão, a excitação erótica de as saber escutadas nos seus telefonemas, o delírio psicopata de obrigar o Estado a guardar-lhes as barrigas, enfim, a pequena desforra dos autos-de-fé de que os privaram.

O resultado do escrutínio, seja ele qual for, é assunto de portugueses, não é matéria que esteja ao arbítrio das sotainas, uma decisão que possamos tolerar aos agentes infiltrados do Sapatinhos Vermelhos.




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