sexta-feira, dezembro 14, 2007

 

Diálogo de civilizações

O diálogo de civilizações não tem passado de um eufemismo com que se apela à trégua entre religiões enquanto todas traçam estratégias para o proselitismo e procuram ganhar poder e influência no processo de globalização em curso.
Não há diálogo de civilizações. A civilização é já a síntese de culturas cujo apanágio é a tolerância e o direito à diferença. A democracia não debate com o totalitarismo nem este aceita aquela.

Há hoje uma luta ruidosa entre a civilização e a barbárie, entre os que fazem da fé uma opção particular ou não a têm e os que não desistem de a impor aos outros, entre os que cumprem os preceitos de uma qualquer doutrina de forma discreta e os que se esforçam para que todos adiram à sua.

É urgente parar os actos terroristas que dilaceram o mundo. As pessoas estão receosas e a civilização em risco. O fundamentalismo protestante dos EUA incentiva os líderes de outras religiões que o secularismo e a laicidade tinham contido. Os pastores que atacam as clínicas que praticam abortos nos EUA, à frente de fanáticos desvairados, são iguais aos terroristas islâmicos que destroem um autocarro com crianças cujos pais têm uma religião diferente.

Há hoje uma desgraçada tendência nos países árabes para impor o totalitarismo religioso e um ódio aos cristãos que se assemelha ao que estes tinham aos judeus antes da última Grande Guerra. Os árabes cristãos estão a desaparecer do Médio Oriente, obrigados ao exílio ou à conversão, e, neste caso, objecto das suspeitas que o cristão-novo inspirava à Inquisição, na Idade Média.

Deixar que os cristãos e judeus sejam extintos entre os árabes é condenar uma etnia à pureza religiosa e todos sabemos os riscos da «pureza», das raças às ideologias, das religiões às convicções políticas.

É difícil que os europeus continuem a facilitar a prática do Islão quando nos países em que ele é maioritário se impedem práticas cristãs, judaicas ou budistas e não se tolera o ateísmo, quando a heresia e a apostasia podem custar a decapitação, quando o Corão é o instrumento de fanatização de crianças e a fé o detonador do ódio.

Todas as religiões se consideram detentoras do alvará da empresa de transportes para o Paraíso e do único deus verdadeiro, donde se conclui que todas as religiões são falsas menos uma. Na melhor das hipóteses.

Os herdeiros do Iluminismo e da Revolução Francesa não podem deixar-se imolar pelos que não se contentam com o Paraíso para si próprios mas se obstinam em impô-lo aos outros.




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