quarta-feira, maio 31, 2006
Selectividade e conspiração
Já aqui falámos da visita de Ratzinger à Polónia, possivelmente um dos últimos redutos do fanatismo católico em solo europeu e de uma opressão política e social que é sistematicamente ignorada pela maioria dos estados membros.
Mas é de acrescentar umas notas sobre o discurso do papa aquando da visita aos campos de concentração. Como político que é não se conteve e teve que fazer mais uns quantos comentários depreciativos sobre a modernidade (compreendo que um rei que se vê privado da maioria do seu poder se sinta ultrajado pela República...), ou seja, para quem ainda não percebeu: Ratzinger acha que o holocausto é uma boa arma política para combate político! Reflecte uma falta de decência que seria impensável para qualquer governante secular, para um líder religiosos parece que é louvável.
É perfeitamente previsível que uma organização que vê o número de seguidores drasticamente diminuído sinta que tem que atacar violentamente a causa das suas desgraças. O que já não é normal é que se use de forma hipócrita a memória das vítimas do holocausto para esses fins! Especialmente quando em todo o discurso não houve uma palavra de reconhecimento da culpa colectiva católica no anti-semitismo polaco (e não só) - um ódio ancestral. Foi um sentimento que sempre esteve presente na nação, não foi importado da Alemanha aquando da guerra. Apesar das suas longas raízes históricas Ratzinger preferiu falar dos mártires e da maldade da modernidade em vez de reconhecer a culpa da Igreja em todo este cenário cultural.
Mas voltando à modernidade, parece-me claro que a Igreja tem um terror ao mundo moderno, um mundo que além de já não lhe reconhecer autoridade quase já não lhe reconhece valor o que leva frequentemente ao isolamento da realidade e por sua vez à mentalidade da teoria da conspiração. Tal como o Jesuíta Barruel no século XVIII criou a conspiração maçónica/jacobina universal também os actuais porta vozes do Vaticano (como os jesuítas caíram um pouco em desgraça calculo que a opus dei seja no futuro o veiculo privilegiado para este processo) criam a sua própria mitologia da conspiração em que os sinistros ateus são movidos apenas por um ódio irracional, sem qualquer projecto ou objectivo.
As opiniões expressas no Diário Ateísta são estritamente individuais e da exclusiva responsabilidade dos seus autores, e não representam necessariamente a generalidade dos ateus. Os artigos publicados estão sujeitos aos estatutos editoriais.
As hiperligações para sítios externos não constituem uma recomendação implícita. O ateismo.net não é responsável nem subscreve necessariamente, no todo ou em parte, a informação e opinião expressa nesses sítios web.