quinta-feira, junho 15, 2006

 

Uma receita para o desastre

quasi um ano relatei como o fundamentalismo cristão e a sua aversão ao uso de preservativos como medida profiláctica no combate à SIDA estavam a ser desastrosos para o Uganda, até à interferência dos fundamentalistas cristãos um exemplo de sucesso no combate à disseminação do HIV. Graças ao programa ABC (abstem-te, sê fiel e, se não seguires as duas primeiras, usa preservativo) as taxas de infecção baixaram de cerca de 30% nos anos 80 para cerca de 5% no início do século XXI. O programa ABC assentava primariamente em informação e todas as estações de rádio ugandesas, com muitos protestos por parte dos moralistas religiosos, se envolveram na difícil tarefa de informar a população sobre a doença, como prevenir e como usar correctamente preservativos. Um trabalho importante foi desenvolvido localmente por grupos de pessoas infectadas com o vírus que andam de aldeia em aldeia em campanhas de informação e prevenção.

Os moralistas religiosos, nomeadamente na Casa Branca, usaram falaciosamente os excelentes resultados ugandeses no combate à SIDA assumindo que apenas o A&B (abstinência e fidelidade) do programa era seguido. O que está longe da realidade! E o piedoso G.W. Bush conseguiu que fosse aprovado um plano de combate à SIDA no continente africano em que os programas exclusivamente A&B recebem a fatia grande do orçamento. Pondo em perigo o combate à disseminação deste flagelo.

O gabinete da primeira dama do Uganda, a senhora Museveni, é o principal destinatário da «generosa» ajuda financeira norte-americana no suposto combate à SIDA. E a receita de sucesso do Uganda transformou-se numa receita de desastre quando a informação à população, nomeadamente às faixas etárias mais baixas, degenerou numa campanha cristã de promoção da abstinência. Em que abundaram orgias ululantes de fé organizadas por várias igrejas e movimentos como o americano «True Love Waits», destinadas a promover a abstinência e o sexo só depois do casamento. Orgias de fé que, como é habitual nos fanáticos cristãos, difundiam desinformação e mentiras óbvias como «Os preservativos são completamente ineficientes».

E os resultados da campanha de abstinência prodigamente financiada pelos Estados Unidos, mil milhões de dólares, foram recentemente anunciados pelo comissário ugandês para a SIDA num discurso público em 18 de Maio último. Kihumuro Apuuli anunciou que nos últimos dois anos as infecções com o vírus HIV quasi duplicaram no Uganda graças aos esforços empenhados dos fundamentalistas.

Não obstante a constatação prática (e não apenas esta) que as campanhas de abstinência tão do agrado dos fundamentalistas cristãos não funcionam, Bush continuou a apoiar os teocratas americanos na sua assassina campanha contra o uso de preservativos, nomeadamente foram os teocratas os representantes do governo americano numa sessão especial das Nações Unidas devotada ao tema que teve lugar no início de Junho.

Vale a pena ler o artigo da jornalista Esther Kaplan sobre o boicote da administração Bush a esta sessão da ONU sobre SIDA, nomeadamente enviando como delegados, em vez de peritos em saúde pública, «socialites» como Barbara Bush, filha de G.W. Bush, e uma amiga, evangelizadores profissionais e prosélitos da virgindade e abstinência.




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